quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Futuro do País

De dia à procura de comida
a noite um lugar pra dormir
carrega no corpo feridas
e ainda consegue sorrir
dizem que o nosso país não vai mal
porque o povo ainda faz carnaval
mas os pequenos e mal amados
não compartilham da mesma visão
há tristeza no seu coração
vivem a margem do nosso país
assaltando e ferindo quem passa
tentam gritar do seu jeito infeliz
que o país os deixou na desgraça
são alvos de uma justiça que só sabe falar
será que a solução
é exterminar herodes não morreu
e hoje os dias estão piores
esterilização em massa e chacina de menores
eu queria somente lembrar
que milhões de crianças sem lar
são frutos do mal que floriu
num país que jamais repartiu
Pátria amada Brasil
Esse é o futuro do país,futuro do país
Pra poder comer eles te pedem dinheiro na rua
você vira as costas
e diz que a culpa não é sua
esse é o futuro do país
você pisa neles hoje amanhã é a sua vida que está por um triz
mas dar uma esmola não é a solução
eles precisam de cultura e boa alimentação
porque um povo sem cultura me dá insônia
qualquer dia desses
voltaremos a ser colônia pelas esquinas e praças estão
desleixados e até mal trapilhos
filhos bastardos da mesma nação
são crianças, porem não são filhos
mas eu queria somente lembrar
que milhões de crianças sem lar
são frutos de um mal que floriu
num país que jamais repartiu
Sempre no fim do ano fazemos planos para o futuro... devemos pensar um pouco menos individualmente. É isso que eu desejo em 2011, e pra sempre. Música de 1995, do sensacional disco Usuário.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O natal do guarda-redes Du!.


Trecho do texto publicado por Eduardo (pedro de) Lara em seu excelente blog La maison du pendu,em 27/12/2010:
"... Como texto de natal não há nada a ser escrito além do óbvio (alguém tem que dizer o óbvio) falemos dos presentes, das boas ações... Aliás, na semana que passou, fui se não outro personagem uma das menininhas de classe média que querem salvar o mundo. Andei distribuindo presentes que não eram meus para outrem. Eu poderia dizer que a felicidade de ver o sorriso em crianças pobres é gratificante. Poderia dizer que foi um momento de reflexão e de parar pra pensar em como tenho sorte por ter o que tenho, etc., etc.. No dia seguinte, estava almoçando numa churrascaria cuja carona foi dada por um sujeito que tem um Punto amarelo 1.8. Ouvíamos Madonna no percurso. (?) Mas voltemos às crianças pobres, (são mais interessantes que carros sport) pois elas estavam lá, recebendo presentes. Ficaram mesmo felizes. Isso é bom. Pra elas. A felicidade é tão somente dessas crianças. Entendem? Eu explico:

Meus amigos, tudo não passou de uma burocrata entrega. Digna de funcionário dos correios. Lá estão as crianças e cá estou eu, no trono da classe média católica. Não vai ser com bicicleta e Playstation que aquela criança vai ser salva. Não vai ser uma vez por ano que as desigualdades vão ser diminuídas. Ainda mais com presentes. Em suma, me senti o mais idiota dos Homens. Fui, entreguei e me mandei. Fui naquele dia a personificação da bondade capitalista. Agora vejam. Não há bondade no capitalismo. É tudo forma da manutenção do status quo.

O que fazer? Os idiotas católicos da objetividade poderão objetar: “Melhor do que nada.”"

Incrível e genial. Há tempos não vejo o Eduardo, nem trocamos feliz natal por msg de telefone...
Ps:. publiquei o texto sem autorização do du!, então se ele sumir de repente vocês já sabem o que ocorreu. Completo aqui.
Beijo a todos.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Até a pequena júlia sabe...

Papai Noel porco pichalista!
Mais uma de natal: We're a happy family (Ramones - 1977)
Só racho.
Graças a Deus natal só em 2011.

Jesus, muros, grades




Jesus foi o último homem bom a pisar na terra. Com seu exemplo ele conseguiu estabelecer uma nova lei, baseada no amor ao semelhante. Sem dúvida, a teoria revolucionária mais influente de todos os tempos em todo o mundo.
Comemoramos a chegada do aniversário de Jesus. Porém, nunca seguimos o exemplo maior que ele nos deixou.
Vivemos cercados de grades e muros. Cada um quer proteger o que é seu, a sua propriedade. Não nos importamos se na nossa rua tem um mendigo que passa fome ou se aquele muleque que pede trocado no sinal está se acabando no crack. Sequer enxergamos humanidade nestas pessoas, que parecem surgir por geração espontânea em cada esquina das cidades.
Não existe a possibilidade de amarmos verdadeiramente alguém que não consideramos dignos sequer do mínimo respeito como pessoa. Por isso, o mais importante é que construamos muros cada vez mais altos, com cercas cada vez mais cortantes, para que nos dê uma sensação de segurança.
Temos medo daquilo que criamos. Damos consentimento a toda situação grave de desigualdade social que vivemos no Brasil. Nada é absurdo, naturalizamos o abismo social como se fosse inevitável, como se não existisse outras possibilidades. Como disse Foucault, no Microfísica do Poder: "nada mudará na sociedade se os mecanismos de poder que funcionam fora, abaixo, ao lado dos aparelhos de Estado a um nível muito mais elementar, quotidiano, não forem modificados.” 
Nos separamos, assim, do mundo exterior. Construímos fortalezas que separam a nossa casa, onde está a nossa propriedade, do resto do mundo, público. Porém, mesmo dentro do nosso castelo existem santuários inacessíveis aos outros, como nosso quarto, cama, armários, gavetas, geladeira... mesmo aqueles que são nossos convidados, e podem dividir conosco o espaço feudal de nossas casas, por muitas vezes não tem acesso a estes locais. Não se entra no quarto do filho sem tocar na porta, nem se abre as gavetas dos pais ou do irmão sem pedir. O espaço, dentro da casa, é dividido em territórios, e pouca coisa é compartilhada por todos.
Construímos muralhas que separam a casa da rua, e barreiras que separam o nosso pedaço dentro da casa. Numa esfera mais íntima, estamos também preparados para nos defendermos uns dos outros. A competição, a ambição, a não satisfação incentivada por nosso regime consumista e nossos valores deturpados faz com que confiemos em poucas pessoas, ficando assim reféns do próprio medo. Os muros, barreiras e grades só não conseguem nos separar de uma vida assim, totalmente sem sentido.
Estamos sempre presos às convenções sociais: fomos condenados a nos comportar conforme regras estabelecidas muito antes do nosso nascimento. O amor é infinito, mas só é nos permitido amar sexualmente uma  pessoa. Temos livre arbítrio, mas não temos a liberdade de nos vestir ou ter a aparência que julgarmos mais adequada. A liberdade burguesa só pode ser aproveitada por quem tem saldo suficiente no banco.
Enfim, Ele faz 2010 anos hoje. Há 1977 anos foi crucificado. Dizem que ressucitou depois de três dias.
Hoje, matamos seu exemplo a cada dia, sem nenhuma chance de ressurreição. Ninguém se importa com nada que está além de um palmo do seu próprio nariz. Assim, comemoramos o aniversário de quem matamos todos os dias.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Top 3 de natal




Eu adoro o natal. É o período que a gente consegue perceber a humanidade que existe naquele mendigo que mora perto de nossas casas. É quando perguntamos àquela senhora que limpa o nosso prédio ou sala, se ela tem um netinho que gostaria de ganhar uma roupinha nova para passar o natal. É quando fazemos todo o esforço para confortar os corações revoltados, ou dar esperanças àqueles mais desfavorecidos. Enfim, seguindo o exemplo do aniversariante, nós comemos e bebemos até passar mal, mas com a consciência tranquila de já ter feito a nossa parte no natal.
O bizarro é que muitos dos que se sacrificam pelos outros no natal, chamam as políticas de distribuição de renda, como o bolsa família, de bolsa esmola, assistencialismo, ajuda para vagabundos entre outros. E votam nos partidos que só querem manter toda a injustiça social que vivemos até hoje (DEM, PSDB)... é como se o pobre tivesse que ser eternamente dependente da caridade para que aquele que ajuda possa se sentir menos entediado ou que tenha alguma consciência social.
Pensando nisso, resolvi fazer um especial de natal, com as músicas que tocariam na minha festa de natal.
Na terceira posição, uma música de 1996, dos Raimundos, do álbum Cesta Básica.
Infeliz Natal:
Não no natal, mas todos os dias: "na sua casa tem ceia, na casa dele não tem"...
Em segundo lugar, um clássico do punk nacional, dos Garotos Podres:
Papai Noel Filho da Puta (letra aqui)
Odeio esse velho ridículo. Quero amarrá-lo numa cama, encher de querosene e meter fogo (igual o muleque do facção queria fazer com a mãe). Rejeita os miseráveis. Aqui não existe natal.
Em primeiro lugar, uma música que nem fala diretamente do natal, mas que ilustra tudo o que eu sinto em relação à hipocrisia e consumismo que permeia esta data. O mais legal da canção é a fina ironia. Essa é mais desconhecida, de uma banda paulista que chamava-se Premeditando o Breque.
Balão Trágico (letra aqui)
Tem gente que acha que pobre tem realmente vida boa. O vídeo é retardado, mas ficou bom com a ironia da música, apesar que acho que não era essa a intenção do autor.
Enfim, acho que o papai noel ideal para o meu natal seria esse da imagem lá de cima, meu amigo Igor Vadia Nefer. Preto, feio, pinguço, bizarro e tarado. O retrato do natal capitalista.
(in)Feliz Natal.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Misère, sera le genre humain

Quanto mais tempo se passa, mais fica claro que os homo sapiens caminham para a total miséria e vivem na mais completa degenerescência. Miséria que me refiro não é (somente) a falta de recursos materiais para a sobrevivência, mas sim a falta de valores mínimos para que possamos viver em grupo.
Como já disse em um texto anterior, episódios como as agressões a homosexuais ocorridas em São Paulo, ilustram o que eu quero dizer: a sociedade cria seus próprios monstros, se forem pobres, são eliminados, se forem ricos, são praticamente absolvidos de crimes terríveis. Vide o que aconteceu com os playboys que queimaram o índio galdino.
A mãe de um dos agressores dos homosexuais de São Paulo deu uma entrevista dizendo que "isso era uma briga normal entre jovens". Claro, todos os dias alguém dá na cara de uma pessoa, sem motivo algum, com uma lâmpada fluorescente. É tão comum quanto jogar fogo num índio... Quem já fez cerol sabe o tanto que esse vidro é cortante...
Enfim, está chegando o natal. E eu odeio o natal, talvez um dia escreva sobre isso. Porém,  e adiantando o assunto, uma das coisas que eu mais odeio é a hipocrisia que reina no coração das pessoas nesta data, e como, de maneira geral, a população acaba vivendo as ilusões dos especiais de fim de ano da Globo.
A miséria parece um estado permanente, próprio da sociedade ocidental capitalista. E, num país sem educação, e que as leis só valem para a população que nunca teve direito a nada, esta condição parece extrapolar o que se pode considerar como minimamente saudável e atingir o imaginário social, transformando em corriqueiro aquilo de deveria chocar e causar comoção em mentes mais sensatas.
É como diz o Mano Brown, em Diário de um Detento "o ser humano é descartável no Brasil". Ou ainda "minha vida não tem tanto valor, quanto seu celular, seu computador". De fato, o brasileiro comum só tem valor de 2 em 2 anos, quando assume o papel de eleitor.
Por estas e outras que fico cada vez mais pessimista em relação ao destino que teremos.

sábado, 4 de dezembro de 2010

O Estado Charles Bronson




Charles Bronson talvez seja o maior matador de bandidos do cinema. Em seus filmes, ele ensina aquela velha lição: "bandido bom é bandido morto". Meliantes frente ao seu potente revólver não têm chances de escaparem com vida, como você pode conferir aqui e aqui.
Stallone, como Cobra talvez tenha vivido o diálogo mais clássico do cinema de ação: “Eu tenho uma bomba, vou explodir isso aqui!! – Vá em frente, eu não faço compra aqui”, “Você é uma doença, eu sou a cura”. Stallone atira. Já era mais um bandido.
Segundo Max Weber, o Estado é o detentor legítimo da violência. As caricaturas de policiais dos filmes que citei agem em nome da lei e da ordem, a qualquer custo. 
A violência do Estado, porém ultrapassa, e muito, tudo o que alguém, que não seja um doente considera como legítimo. Qual o direito que o Estado tem de acabar com a vida de um indivíduo?
Muito mais frequente e menos aparente que a violência  da polícia está a violência do Estado sobre uma população constantemente oprimida. Quantos morrem por ano em acidentes de trânsito? Assassinados por questões relacionadas ao tráfico de drogas? De fome? Por falta de atendimento médico de qualidade? Por falta de educação (isso também mata.)?
Para Stallone, a cura é possível enchendo-se o peito do bandido de balas de revólver. O Estado vai eliminando o que é indesejável, das formas mais cruéis e desumanas que se pode imaginar: sem educação, sem oportunidades, sem lazer, sem saúde... o Estado reserva apenas as balas para os setores mais pobres da população. E, isso é comemorado como a presença da ordem.
E, se Maquiavel estiver realmente certo, se é a sociedade que legitima o poder de uma entidade superior, cada um de nós, brasileiros, devemos nos sentir um pouco assassinos, um pouco Charles Bronson.