domingo, 17 de abril de 2011

Lições sem Braço




Quatro semanas sem poder usar direito a mão esquerda... apesar de ser a sexta fratura da minha vida, foi a primeira que eu parei para refletir sobre as lições deste período. Algumas delas:
1 - A incrível capacidade de jogar fora o que as pessoas oferecem de melhor:
Sempre é insuficiente ou excessivo o que recebemos ou oferecemos. E não temos paciência ou amor que basta.
2 - Só se conhece a cidade andando de balaio:
Mas não o 5102, zona sul/elite intelectual. Falo de 3850, citrolândia/centro ou do 4195 São Benedito/Cidade Industrial.
3 - Falta de solidariedade geral:
Não estava morrendo, ou com uma perna engessada. Só era mais difícil me equilibrar no vai-e-vem do ônibus, sem poder me segurar com as duas mãos. Vi gente jovem disputando lugar na frente de uma senhora que com certeza deveria ter preferência. Gente com uniforme de escola sentado enquanto pessoas que com certeza já passaram dos 50 em pé... profundamente lamentável.
4 - Ambiente de hospital:
Terrível, pra qualquer um que tenha o mínimo de sensibilidade. Eu tive a sorte de ser atendido num ótimo hospital, mesmo assim vi muita coisa que não gostaria.
5 - Tarefas domésticas:
Lavar a louça, varrer a casa, não é lá muito bom. Mas ter a possibilidade de fazer isso, todos os dias, é uma grande benção.

6 - Dependência:
Já briguei com minha mãe para ela começar a dirigir e deixar de depender de outras pessoas para andar de carro. "A senhora tem carteira e carro", dizia eu. Durante essas semanas eu tinha carteira, carro, moto e andava de ônibus. Se quisesse andar de carro tinha que pedir minha mãe (que passou a dirigir) ou a Ana. Lição.
Aliás, minha mãe e a Ana que me ajudavam a tomar banho, amarrar o calçado, tirar ou vestir camisa, abotoar a calça, entre outras tarefas que de simples não tem nada.
7 - Bola, conforto, sono...
Difícil ficar sem jogar bola. O médico disse que só poderei voltar a jogar depois da fisioterapia e de um retorno em seu consultório. Imagino que será mais três semanas, pelo menos.
Extremamente desconfortável ficar com o gesso, o que afetava meu sono também. Claro, não dormia bem...
Tem outras lições, mas nem lembro agora. Ficar sem escrever aqui também foi ruim. Dificilmente alcançarei a meta de 2011, mas enfim, mesmo sabendo que milhares de leitores (não) mandarão e-mails xingando, esta é a realidade.
Penso que a primeira lição eu aprenderia, com ou sem braço.