quarta-feira, 16 de março de 2011

O Haiti é Aqui II

Não, a imagem não é do Japão depois do tsunami. Nem do Haiti. Nem das avalanches de terra, na região serrana do Rio de Janeiro. A foto é da região do bairro Betânia, em Belo Horizonte, depois de mais uma enchente do Arrudas.
Grandes tragédias, com milhares de mortos, sempre causam sentimentos como a pena, a consternação, a vontade de ajudar... pelo menos é o que eu penso que deve acontecer com pessoas minimamente normais.
Porém, estas grandes tragédias acabam por encobrir o que acontece diariamente, e que insistimos em considerar ser normal: um assassinato, um atropelamento, as enchentes do arrudas, crianças sem educação ou sem comida, os mortos nas portas dos hospitais, entre outros. Estas tragédias deveriam, por serem bem mais frequentes, despertar em nós pelo menos a indignação. Mas, insistimos serem fatos naturais, quase como comer ou dormir.
A reportagem do Jornal Hoje, de hoje, ilustra uma parte do que eu quero dizer. Nela, um repórter brasileiro, há quinze anos no Japão, se espanta ao ver duas meninas revirando os escombros das casas à procura de algo para comer. Depois aparece um outro brasileiro, há 20 anos no Japão, bastante emocionado, dizendo "nunca imaginei que veria crianças japonesas revirando o lixo procurando comida". 
A fome é uma tragédia, no Japão, no Irã, na Somália ou na lua. Respondam a si mesmos: quem nunca viu, no centro de Belo Horizonte, uma criança procurando alguma coisa de comer, ou pedindo alguma esmola dizendo querer se alimentar? Quem de nós chorou por isso?

Milhares de brasileiros morrem de fome por ano. Mereciam um tsunami de lágrimas.


Não sei por quanto tempo a reportagem vai ficar disponível, mas é a primeira do jornal hoje do dia 16/3/11. http://g1.globo.com/jornal-hoje/