quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Despreparada Infantaria

Não tenho a intenção neste texto de simplesmente criticar a polícia. Na verdade eu odeio quando escuto um playboy fazer generalizações ao falar mal dos policiais sem ao menos conhecer o que eles são obrigados a passar todos os dias. Quem tem coragem de botar a cara na frente de uma arma por menos de R$2000,00 reais por mês? eu não...
Como professor, sinto uma identificação bastante forte com os policiais. Escola e polícia são a única presença do Estado em certos lugares. A violência explode, e um dos lugares privilegiados para isso é a própria escola. Colocamos a  cara onde muita gente não tem coragem. Lidamos com pessoas que não conseguem perceber outras oportunidades a não ser a entrar para o mundo do crime. Somos a infantaria da sociedade.
A violência tem como principal causa a desigualdade social, e a falta de educação geral, tanto de ricos como de pobres. Você é empresário, ganha caminhões de dinheiro e paga um salário de fome aos seus funcionários? Você vota no PSDB? Obrigado, você ajudou a perpetuar as estruturas sociais vigentes. Hoje é a minha, amanhã a sua vida que pode estar por um triz, sob a mira de uma arma.
Somos infantaria, mas não estamos preparados. Nos colocam no fogo cruzado sem nenhuma proteção. A polícia tem ao menos armas (que nem sempre são bem usadas).
Quem não se lembra do caso da favela naval, em Diadema (SP)?  Um dos policiais envolvidos tinha o singelo apelido de Rambo. Em Pernambuco, policiais obrigaram suspeitos a se beijarem, ainda filmaram danda muita risada. Para chegar perto, tem o caso ocorrido essa semana na favela da Serra, onde mora meu chegado Pacote. Mais perto ainda, o caso que aconteceu a duas ruas da minha casa, quando policiais civis e militares se enfrentaram de arma em punho.
São inúmeros os fatos que ilustram o despreparo da polícia, em vários níveis. Claro que não quero justificar condutas criminosas de quem deveria zelar pela ordem burguesa. O Brasil tinha, em 2009, uma população carcerária de 473.626, a maior parte delas presa por crimes contra a propriedade privada, ou tráfico de drogas. Alguma coisa está errada nisso, é muita gente presa. Claro que aquele que rouba está errado, mas quem explora o trabalhador ou contribui para o aumento da desigualdade também não está errado?
A polícia é treinada para fazer a segurança daqueles que tem dinheiro. E mesmo assim não consegue. Ao pobre, restam as balas e a violência desmedida dos homens do Estado. A polícia é despreparada. É culpada, mas também é vítima. Assim como todos nós.
Para terminar, em 1984, no disco Crucificados pelo Sistema, o Ratos de Porão cantava:
Infelizmente algumas músicas continuam atuais.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Fim de jogo




Hoje é um dia triste para quem gosta de futebol. A precoce aposentadoria de Ronaldo põe fim à uma grande história de conquistas e superação.
Não tive a sorte de ver Pelé, Tostão, Dirceu Lopes, Natal, Rivelino, Zico. Os maiores jogadores que vi foram Ronaldo e Zidane. O primeiro parou hoje, o segundo já a algum tempo.
Me sinto órfão. Craques como esses que citei não deveriam se aposentar nunca, é um crime ver a camisa nove do cruzeiro, que já foi de Ronaldo e Tostão sendo vestida por um cara que erra gols dentro da pequena área.
Ronaldo jogou nos quatro maiores clubes do mundo. E jogou no Cruzeiro. É o maior artilheiro da história das copas do mundo. Chegou em três finais de copa seguidas, ganhou duas.
Infelizmente, os animais que povoam os estádios de todo o Brasil, e se acham mais torcedores que os outros, praticamente forçaram a sua aposentadoria. Deveriam ser presos, mas aqui a lei não funciona quando se trata de certos assuntos, e futebol é um deles.
Quem me conhece sabe o quanto eu gosto de futebol. Pode ser a série A3 paulista na rede vida ou a final da Champions League. E Ronaldo é um dos responsáveis por isso.
Meu pai é louco com futebol, mas por vários motivos ele não gosta de nenhum time. Assiste a todos os jogos, mas não torce pra ninguém (eu realmente não consigo entender bem como funciona a cabeça dele). Fato é que, até seis anos de idade eu não tinha time também (mas já gostava de bola).
A maior parte da minha família é atleticana. Tinha tudo para ser mais um, até que, em 1993 meu tio me deu uma camisa do cruzeiro. E não era qualquer camisa, era a nove, na época de Ronaldo. E assim, por causa do Ronaldo, virei torcedor do Cruzeiro.
Mesmo com seu corpo já debilitado para o esporte profissional, Ronaldo tinha lampejos de gênio no Corínthians. Impossível esquecer os seus gols contra o Santos, na final do Paulistão de 2009.
Infelizmente, o jogo acabou, e Ronaldo não conseguiu vencer de novo as suas limitações físicas. Mas deixou as lembranças de suas arrancadas e a lição de sua força de vontade de ressurgir para o esporte outras vezes.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Um tucano entre nós




Tenho um amigo tucano. Ele odeia o Lula. Antes das eleições, ele dizia: "Edson, ela era guerrilheira, terrorista".
Apesar disso, ele é um tucano diferente... primeiro porque ele é professor de história. Segundo, e, principalmente, porque é um cara que apesar de tucano e corintiano, ele é inteligente. E é radical em suas idéias, diferente dos outros tucanos.
O que eu mais admiro nele é a coragem de se assumir tucano. Muitos que eu conheço assumem qualquer coisa, menos que tenham idéias neo-liberais.
Ele tem bons argumentos, e faz as mesmas críticas que eu faço ao PT. Participa do sindicato dos professores, e é muito mais radical que os caras do PSTU. Não fica babando ovo do Aécio, ou do Anastasia, e disse para mim que nem votou no Serra. Segundo ele "o problema do PSDB, Edson, é que para a educação eles são uma bosta".
Tem a sinceridade suficiente para assumir posições politicamente incorretas, contra principalmente o que disse no último post, sobre educação redentora. Para ele "a gente, dentro de sala, não é obrigado a conviver com esses marginais, que metem medo em qualquer um." A útima vez que nos encontramos, ele saiu com esta pérola: "Edson, eu juro procê, que se eu passar nesse concurso da PBH eu vou trabalhar com educação de deficientes, porque é muito melhor trabalhar com um menino que tem um problema do que com esses bandidos dentro de sala".
Claro que, pessoalmente, não concordo com ele. Mas não posso negar que este é um sentimento comum na classe dos professores, apesar de nem todos serem tão corajosos para assumí-los.