domingo, 21 de novembro de 2010

A nossa grande geração perdida


A minha geração, nascida na década de 1980, assistiu ao surgimento e tentativa de aplicação das primeiras teorias que consideravam a reprovação escolar como a principal culpada pela alta taxa de evasão escolar. De fato considerar fatores socioeconômicos ou psicológicos dos alunos antes de simplesmente fazê-los repetir um ano de estudos foi um avanço. Porém, nada foi feito para se melhorar estas condições, a não ser obrigar as crianças a irem para uma escola altamente desinteressante e sucateada. Um fracasso, do qual fomos vítimas. Somos os filhos das gerações dos 1950 e 1960, que não tiveram educação.
Atualmente temos como consolidada a universalização escolar. Praticamente 100% das crianças em idade escolar estão realmente matriculadas em alguma escola. Um grande avanço.
Pouca coisa além disso porém foi feito. Mais do que um direito, a educação se tornou uma obrigação, e algumas vezes uma moeda de troca. E, por isso, a escola atualmente é apenas um depósito de crianças. Não se tem qualidade necessária para se proporcionar a oportunidade para que os indivíduos sejam realmente educados, e o máximo que acontece, em algumas escolas particulares, é o ensino do conteúdo. Estamos formando uma geração de pessoas bem informadas e muito pouco educadas.
Episódios como o ocorrido semana passada, quando jovens agrediram outros com lâmpadas fluorescentes ilustram o que eu quero dizer. Casos de violência gratuita como este, entre jovens, são comuns em todas as classes sociais, o que demonstra que o problema da falta de educação não é restrito.
Existe porém, uma violência muito sutil mas também muito devastadora, a qual estão expostos os jovens mais pobres: é não ter acesso a coisas básicas para a formação do ser humano, como lazer, esportes, música, literatura, cinema, entre outros. Sem melhores opções, ou as crianças vão para a rua, onde geralmente se tornam vítimas de bandidos (que geralmente são também vítimas), ou se trancam em casa vendo televisão, sendo bombardeados com reportagens como esta.
Para os editores do jornal da globo, é natural que uma pessoa nascida depois da década de 1990 tenha celular, notebook, televisão a cabo, video game, entre outros. Se um extraterrestre usasse esta reportagem como parâmetro de conhecimento do Brasil iria pensar que todos os sub-20 tem condições de possuir tais objetos, e usá-los todos ao mesmo tempo.
De fato, não é assim. Grande parte da população tem acesso apenas a um celular. O resto, que mostra na reportagem, faz parte do universo de uma mínima parcela da população. Muita gente não tem acesso nem a comida todos os dias, o que parece ser esquecido por pessoas que têm a visão tão deturpada quanto a da reportagem.
Segundo o Bernardo, o repórter fala da realidade dele, como se ela fosse natural. Isto é bastante compreensível.
A reportagem, porém não se apresenta com uma indicação: "se você tem renda menor que quatro salários mínimos per capita na sua casa não assista esta matéria". E é sobre esta violência que eu falo.
Imagino uma pessoa pobre assistindo a reportagem e se identificando com ela, pois tem menos de 20 anos também. Porém, ela não tem acesso nem à metade do que aparece na matéria. E, como na nossa sociedade cada um vale o que tem no bolso (ou no banco), e o desejo de consumir é universal, não é fácil não ter condições nem de tentar.
Como já disse, a televisão é a maior fonte de lazer e diversão das famílias pobres brasileiras. E ela  influencia  a moda, os comportamentos e o vocabulário das pessoas, principalmente as crianças. E estas estão expostas e vão crescendo assistindo o modo de vida retratado nas novelas, as roupas, os carros, as propagandas, entre outras coisas que provavelmente eles nunca terão oportunidade de ter ou usar.
E se o Leandro Menezes estiver correto, e "desejar o que não se pode ter é vício" mesmo, estamos assistindo o nascimento de uma geração de viciados. E, como todo viciado, eles farão de tudo para ter o que desejam. E descobriremos como esta geração já nasceu perdida.

4 comentários:

  1. Pobres sempre existiram, mas na epoca atual existem pobres bombardeados por um padrao de consumo fútil onde o "ter" é fundamentado como ideal de vida.

    Se a pobreza por si só ja gerasse bandidos o Vale do Jequitinhonha teria um indice de crimes maior que o de Sum Paulo. No entanto o q acontece é o oposto,

    A cidade grande bombardeia o individuo com os valores do consumo e do viver segundo a ditadura de uma moda pouco interessada em divulgar comportamentos essenciais ou elevados. O que sustenta esta mídia sao o sapelos superficiais da aparencia e do consumo.
    o luxo daqueles que gastam em uma noite de Sexta o mesmo q um Obreiro ganha em um mes fascina e ao mesmo tempo instiga os q nao podem fazer isso a buscarem a qualquer custo os seus aperitivos de bem viver. Pode ser roubando, pode ser traficando, pode ser sonegando ou pode ser no gato da conta de luz.

    ResponderExcluir
  2. ae!
    sobre propaganda.... assistam:
    (é sobre propaganda pra crianças, mas serve bem pra tudo)

    http://docverdade.blogspot.com/2009/06/consuming-kids-criancas-do-consumo-2008.html
    e
    http://docverdade.blogspot.com/2009/06/crianca-alma-do-negocio-2009.html

    muito bons, o nacional principalmente.

    ResponderExcluir