domingo, 28 de novembro de 2010

A estranha "anarquia" brasileira




O Estado é a maior ferramenta de dominação e privação da liberdade de toda a sociedade. Ao Estado pertence a vida de todos, já que em nome da "perfeita ordem", esta entidade pode matar ou prender qualquer um de nós. E, é claro que o Estado atende aos interesses de uma mínima parcela da população.
No Brasil, o Estado se omitiu em muitos momentos importantes da história. Procurou-se diminuir o seu peso em algumas áreas, que acabaram sendo deixadas à própria sorte.
Durante as décadas de 1960 e 1970, quando o maior problema do país era o êxodo rural, surgiram os grandes aglomerados urbanos sem nenhuma infra-estrutura, e que depois se tornariam as favelas que conhecemos atualmente.
Foram décadas de esquecimento destas partes da cidade. Sem a mínimas condições de moradia, sem comida, sem educação, sem lazer, sem água encanada e sem energia elétrica, os jovens nestas áreas cresceram assistindo seus pais trabalhando como burros e não obtendo nenhuma melhora de vida. Não é difícil imaginar o que aconteceu.
Atualmente, muitas destas grandes áreas estão dominadas por marginais. Pessoas que geralmente nunca tiveram nenhuma outra oportunidade de conseguir alguma coisa e que não vêem outras possibilidades a não ser entrar para o mundo do crime. Novamente, esta é só mais uma consequência da falta de educação.
No Brasil, tentou-se acabar com o Estado antes de se acabar com a propriedade privada. E o povo continua dando consentimento a esse tipo de política, visto a grande votação de Aécio Neves e Antônio Anastasia, em Minas Gerais. É triste, mas a nossa elite é muito bem informada e muito pouco educada. Ainda vota PSDB, DEM...
E, enquanto eu escrevo este tópico a polícia acaba de retomar o conjunto de favelas do Alemão, no Rio de Janeiro. Espero que o Estado se coloque nestas áreas de maneira efetiva, oferecendo à população opções de melhoria de vida e principalmente de boa educação.

domingo, 21 de novembro de 2010

A nossa grande geração perdida


A minha geração, nascida na década de 1980, assistiu ao surgimento e tentativa de aplicação das primeiras teorias que consideravam a reprovação escolar como a principal culpada pela alta taxa de evasão escolar. De fato considerar fatores socioeconômicos ou psicológicos dos alunos antes de simplesmente fazê-los repetir um ano de estudos foi um avanço. Porém, nada foi feito para se melhorar estas condições, a não ser obrigar as crianças a irem para uma escola altamente desinteressante e sucateada. Um fracasso, do qual fomos vítimas. Somos os filhos das gerações dos 1950 e 1960, que não tiveram educação.
Atualmente temos como consolidada a universalização escolar. Praticamente 100% das crianças em idade escolar estão realmente matriculadas em alguma escola. Um grande avanço.
Pouca coisa além disso porém foi feito. Mais do que um direito, a educação se tornou uma obrigação, e algumas vezes uma moeda de troca. E, por isso, a escola atualmente é apenas um depósito de crianças. Não se tem qualidade necessária para se proporcionar a oportunidade para que os indivíduos sejam realmente educados, e o máximo que acontece, em algumas escolas particulares, é o ensino do conteúdo. Estamos formando uma geração de pessoas bem informadas e muito pouco educadas.
Episódios como o ocorrido semana passada, quando jovens agrediram outros com lâmpadas fluorescentes ilustram o que eu quero dizer. Casos de violência gratuita como este, entre jovens, são comuns em todas as classes sociais, o que demonstra que o problema da falta de educação não é restrito.
Existe porém, uma violência muito sutil mas também muito devastadora, a qual estão expostos os jovens mais pobres: é não ter acesso a coisas básicas para a formação do ser humano, como lazer, esportes, música, literatura, cinema, entre outros. Sem melhores opções, ou as crianças vão para a rua, onde geralmente se tornam vítimas de bandidos (que geralmente são também vítimas), ou se trancam em casa vendo televisão, sendo bombardeados com reportagens como esta.
Para os editores do jornal da globo, é natural que uma pessoa nascida depois da década de 1990 tenha celular, notebook, televisão a cabo, video game, entre outros. Se um extraterrestre usasse esta reportagem como parâmetro de conhecimento do Brasil iria pensar que todos os sub-20 tem condições de possuir tais objetos, e usá-los todos ao mesmo tempo.
De fato, não é assim. Grande parte da população tem acesso apenas a um celular. O resto, que mostra na reportagem, faz parte do universo de uma mínima parcela da população. Muita gente não tem acesso nem a comida todos os dias, o que parece ser esquecido por pessoas que têm a visão tão deturpada quanto a da reportagem.
Segundo o Bernardo, o repórter fala da realidade dele, como se ela fosse natural. Isto é bastante compreensível.
A reportagem, porém não se apresenta com uma indicação: "se você tem renda menor que quatro salários mínimos per capita na sua casa não assista esta matéria". E é sobre esta violência que eu falo.
Imagino uma pessoa pobre assistindo a reportagem e se identificando com ela, pois tem menos de 20 anos também. Porém, ela não tem acesso nem à metade do que aparece na matéria. E, como na nossa sociedade cada um vale o que tem no bolso (ou no banco), e o desejo de consumir é universal, não é fácil não ter condições nem de tentar.
Como já disse, a televisão é a maior fonte de lazer e diversão das famílias pobres brasileiras. E ela  influencia  a moda, os comportamentos e o vocabulário das pessoas, principalmente as crianças. E estas estão expostas e vão crescendo assistindo o modo de vida retratado nas novelas, as roupas, os carros, as propagandas, entre outras coisas que provavelmente eles nunca terão oportunidade de ter ou usar.
E se o Leandro Menezes estiver correto, e "desejar o que não se pode ter é vício" mesmo, estamos assistindo o nascimento de uma geração de viciados. E, como todo viciado, eles farão de tudo para ter o que desejam. E descobriremos como esta geração já nasceu perdida.

domingo, 14 de novembro de 2010

Com quantos "brunos" se faz o Brasil?

Imaginem uma situação: na "periferia da periferia" de uma grande cidade brasileira, nasce uma criança. O pai desaparece, e a mãe o abandona. O menino cresce sendo criado pela avó, que com certeza já não dá mais conta de ser enérgica com uma criança como fora há 20 anos atrás com os próprios filhos. Apesar de ter sido, como disse, criado pela avó, aprendeu tudo o que sabe na rua, com amigos que provavelmente são tão ou mais pobres, tão ou mais abandonados que ele. Ia pra escola para ver os amigos e para comer a merenda, refeição mais completa do seu dia. Esta história é muito comum, eu mesmo já tive vários amigos que tinham uma vida parecida.
Um dia, este menino decide gastar seu único real para fazer uma aposta na Mega-Sena, com a esperança que só as crianças tem. E é sorteado, e consegue mudar a sua vida e a vida dos seus amigos, que continuam os mesmos de antes, da época de pobreza. E se torna poderoso, e vai ganhando cada vez mais dinheiro, e cada vez mais cheio de amigos, e claro, cercando-se de muitos aproveitadores.
Esta é a história do goleiro Bruno Fernandes, tirando-se a parte do bilhete premiado. Na verdade, ao invés de um jogo de loteria, ele tinha um talento incontestável para o futebol, o que lhe deu a única chance que teve na vida. E soube aproveitar a chance, se tornando goleiro do galo e depois do flamengo, sendo capitão do time campeão brasileiro de 2009.
Porém, sempre se envolve em polêmicas, e sua imagem está sempre associada às confusões envolvendo principalmente mulheres. Em 2010 foi preso acusado de um assassinato que teve todos os requintes de crueldade possíveis, segundo a polícia. Não quero falar aqui se é verdade ou não, se o goleiro é culpado ou não, dar detalhes do crime, etc...
Bruno ainda não foi julgado. Mas já foi condenado. O flamengo já disse que ele não volta ao gol rubro-negro, mesmo se for absolvido. Abandonou o seu atleta. Não conseguirá, provavelmente, nenhum time para jogar, se provar a sua inocência, e não sabe fazer outra coisa a não ser jogar futebol.
Como muitos outros, Bruno já nasceu condenado. Condenado ao abandono dos pais, abandono do Estado, sem educação. Existem milhares de brunos no Brasil, que não tem nem a chance de fracassar como o goleiro, pois não tiveram nenhuma chance de tentar.
A mulher, suposta vítima de Bruno, têm uma história parecida. Abandonada pelos pais, sozinha no mundo, conseguiu algumas chances de trabalhar utilizando o seu corpo, a sua beleza. Foi modelo, atriz, acompanhante, e viu a chance de alcançar seus 15 minutos de fama envolvendo-se com jogadores famosos. Assim como os brunos, não teve família nem outras chances de conquistar alguma coisa, ou alcançar um sonho.
A mídia, tão podre e desonesta como é de seu costume, faz da cobertura do caso um misto de circo de horrores com trem fantasma. Advogados, delegados, juízes, apresentadores, todos buscando o seu cantinho nos holofotes. O que menos importa é a vida dos acusados e da vítima, e sim qual a audiência será alcançada ao se inventar mais um furo, mais uma novidade, mais uma notícia bombástica sobre o caso.
Estamos construindo um país de brunos e elisas, não interessa se as crianças se chamam Josimar, Cristiano, Daniel, Flávia*... o nome é o que menos importa, para quem não é considerado, em momento nenhum como gente de verdade.
O ser humano é descartável no Brasil. O caso Bruno, assim como o ônibus 174, no Rio, assim como o carandiru, assim como o caso Nardoni, assim como o caso da menina presa com homens no Pará, assim como o caso da cadeia incendiada com gente dentro no interior de minas, assim como o caso da candelária, assim como o índio Galdino, assim como muitos outros casos de violência extrema só provam o que eu quero dizer. Enquanto existirem brunos no País, jamais teremos paz. Nem eles.

*são alguns brunos que eu conheci, que foram assassinados. Quando uma pessoa puxa o gatilho, não está sozinha. Toda a sociedade é co-responsável por qualquer morte violenta.

sábado, 6 de novembro de 2010

dez sensacionais discos

Finalmente, acabou a baixaria. O horário político parecia o programa do ratinho, na época em que mostrava o exame de DNA (eu adorava).
Dei uma olhada nos posts anteriores e achei que estava muito chato ficar falando de política, educação e desigualdade social. Por isso, pela primeira vez neste blog, falarei sobre música.
Vou tentar listar os dez discos que eu conheço que eu mais gosto, e tentar justificar as escolhas. Como toda lista, de cem, dez ou mil, nem todo mundo concordará. E não é pra concordar mesmo.
Outra: não sei nada de música, por isso volto a afirmar que são os dez melhores discos que eu conheço. Talvez daqui a um ano eu faça uma lista completamente diferente. Mas, aí vai:
The Beach Boys: Pet Sounds (1966)
Para mim e para Paul McCartney, o melhor de todos os tempos. Certamente renderá um tópico só pra ele daqui a um tempo.
Tropicália, ou panis et circenses (1968)
 Revolucionário, incrível e genial. Cada vez que escuto este disco,  sinto que nós estamos perdendo a capacidade de nos reinventar culturalmente, e reproduzindo a cultura da dominação...
Velvet Underground & Nico (1967)
Ícone do Indie de todos os tempos. As músicas tratam de temas como o uso de drogas e a cultura marginal. Ótimo.
Ramones: End of the Century (1980)

 Três notas, a simplicidade da música. Neste disco os Ramones parecem sintetizar todo o mal estar do final do século XX, antecipando o que seria da década perdida. Destaque para a sensacional Do You Remember Rock'n'Roll Radio?.
Pink Floyd: The Piper at the Gates of the Down (1967)
 Primeiro álbum do Pink Floyd, lançado em 1967, no auge da psicodelia do final dos anos 1960, antes da banda ser considerada como o ícone do rock progressivo, ganharem milhões de dólares com seus shows superproduzidos e antes do gênio maior Sid Barrett enlouquecer de vez.
A Sociedade da Grã Ordem Kavernista Apresenta a Sessão das Dez (1971)


Raul Seixas acabara de sair do interior da Bahia para o Rio de Janeiro, a convite de seu grande amigo Jerry Adriane. Trabalhava como produtor na gravadora CBS, e diz a lenda que ele, e os outros três integrantes da Sociedade (Sérgio Sampaio, Myriam Batucada e Edy Star) aproveitaram que o diretor da gravadora tinha viajado e gravaram o disco em uma madrugada.
Verdade ou não, as músicas cantam a desilusão da cidade grande, e o impacto dos costumes urbanos em pessoas vindas do interior, principalmente dos sertões. Vale lembrar que até a década de 1990, um dos maiores problemas do Brasil era o êxodo rural, e as grandes favelas, como a rocinha, ou heliópolis, tem por volta de 70% de sua população composta de nordestinos ou descendentes de nordestinos.
The Clash: London Calling (1979)
Uma das capas mais incríveis de todos os tempos, e que demonstra todo o espírito do punk, combatendo a decadente sociedade inglesa da época. A banda transita entre vários estilos no mesmo disco, desde o ska, ao reggae e até punk de três notas.
Caetano Veloso (1969)




Só digo uma coisa: neste disco está a música com a qual batizei o blog. Alfomega.
Os Paralamas do Sucesso: Selvagem? (1984)
 Uma das capas mais legais do rock brasileiro. Assim como o the Clash, gosto dos Paralamas porque em um mesmo disco conseguem fazer muitos estilos. E, neste disco está a música Teerã, que batiza um dos posts passados deste blog.
Racionais mc's: Sobrevivendo no Inferno (1997)
Segundo Caetano Veloso, o melhor disco brasileiro dos anos 1990. De fato, músicas como Capítulo 4, Versículo3, ou Qual Mentira Vou Acreditar?, são tapas na cara da sociedade conservadora brasileira da época de FHC.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Special Edition: the Revolution is Comming!




Primeiro: Um operário, sem curso superior, retirante de pernambuco, favelado em Santos, favelado em São Bernardo do Campo, sindicalista, se torna  o melhor presidente que o Brasil já teve, permanecendo oito anos no poder, de 2002 a 2010. A esperança venceu o medo.
Segundo: Uma mulher, pupila, seguidora e braço direito do presidente, é escolhida pelo POVO para sucedê-lo. A esperança já tinha vencido o medo. Era a hora de vencer outros desafios, como o machismo e o fanatismo religioso, por exemplo.

Fato é que o povo já conhece os dois projetos de país que se colocaram nestas eleições. A direita, que esteve no poder durante a ditadura e voltou com FHC de 1994 a 2002, e o projeto voltado para políticas sociais, desenvolvido pelo presidente Lula e seus ministros. Foram quase 13% de diferença total de votos entre Dilma e Serra, ou entre os projetos diferentes de Brasil. A esperança de 2002 se tornou certeza e tomou forma. Já não se quer mais para o Brasil aquela velha doutrina de se fazer o bolo crescer para depois se dividir. O bolo, que sempre foi grande, começa, muito vagarosamente, a ser dividido, através de programas sociais, de importância reconhecida internacionalmente.
Infelizmente, o Estado continua refém dos banqueiros, latifundiários e grandes capitalistas. Por isso não votei em Dilma no primeiro turno, por não concordar com importantes programas, como a transposição do Rio São Francisco ou a construção de milhões de casas pelo Minha Casa, Minha Vida, projetos que vêm beneficiando sistematicamente as grandes empreiteiras... por que não se criar um mecanismo para se acabar com a especulação imobiliária, e colocar os pobres para morar em imóveis vazios, usados para essa prática tão prejudicial?
Não vivo no século XIX, como o pessoal do PCB. Apesar da imagem escolhida para ilustrar o post, sei que a revolta armada só pioraria os problemas que temos aqui. Mas considero que, apesar de lentamente, as coisas vêm acontecendo, e o Brasil está se tornando um país melhor para todos (o que incomoda uma pequena parcela da população, que habitava o paraíso brasileiro sozinha). Mais do que chegando, a revolução está acontecendo...
Em tempo, ainda bem que o Brasil não é Belo Horizonte. Aqui, Serra venceu Dilma por uma margem de 11.000 votos, mais ou menos. É hora do PT mineiro voltar a se unir e pensar como reestabelecer as suas grandes vitórias na Tancredópolis, como diria meu amigo Néfer.
Em tempo, again. Aécio Mrs. Bean Neves, o grande DERROTADO destas eleições. "Pow, você tá louco falando isso, o Aécio se elegeu com 70% dos votos, elegeu o Itamar, elegeu o Eliseu Resende, elegeu o Anastasia, o que você fumou pra falar que ele foi derrotado???"
Todos sabemos da megalomania do nosso querido senador. Quer ser presidente. Quando percebeu que não ia ser escolhido como candidato a presidência pelo PSDB, teve a grandeza de abrir mão das prévias e se candidatar a senador. Com vitória garantida, bastou fazer campanha para seus aliados, Itamar e Anastasia.
Aécio, sabendo que o senado é a casa da direita no Brasil, não esperava que dessa vez não seria assim. Isto porque, dos 81 senadores, 57 estarão com Dilma. As pretensões de ser presidente do senado, desta maneira, foram frustradas. Chupa, Aécio.
Mesmo com seus "aliados" do PSDB, Aécio está queimado. Foi notório o corpo mole que ele fez na campanha de Serra em Minas Gerais. Tanto que, aqui, Dilma obteve quase 60% dos votos, uma vitória humilhante. Certamente, os paulistas poderosos, como o também senador eleito Aloysio Nunes (PSDB-SP) vão isolar nosso garoto de Ipanema durante, pelo menos os quatro anos de governo Dilma, e, se o PT continuar no poder, serão, certamente, oito anos do mais completo ostracismo de Aecinho no congresso. Que la sigan chupando.
Estou feliz. Amanhã, voltarei a falar mal do PT.