sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Hipocrisia Alcoólica


"Desde pequeno você é induzido a fumar
induzido a beber
ouvindo a tv falar
diga não às drogas,
use camisinha
e pare de brigar
mas beba muito álcool até a sua barriga inchar"
Inicio este post, que poderia ser algo sobre meu aniversário tão próximo, com estes versos de a culpa é de quem, do Planet Hemp.
Isto porque não tem nada que eu ache mais ridículo do que ver as pessoas se vangloriando de encher a cara até ficar bem louco nos finais de semana, e dizer que não usam drogas.
Não quero que pareça um post de extrema direita autoritária, peço a todos que tiveram esta impressão que leia até o final.
E existem as verdades prontas da bebida, como "não existe uma boa história que começa sem álcool", essas coisas.
É realmente divertido ficar momentaneamente fora de seu juízo normal. É bom.
Porém, digo a todos que não existe droga "pior" que o álcool. Nunca vi ninguém procurar briga, querer matar os outros, e todas as merdas que acontecem com as pessoas bêbadas, depois de fumar um baseado. 
A sociedade brasileira é geralmente muito hipócrita. É assim com as questões do aborto, da corrupção, da violência e dos abusos dos policiais. E assim também o é com a questão das drogas. Existe o imaginário social de que proibir algo basta. E aquele que escolhe fazer o proibido, se algo de ruim acontecer, que arranje ajuda por si próprio. E não se resolvem os problemas.
Enfim, o álcool como droga traz muito mais problemas do que as drogas ilícitas. Não incluo aí a questão do tráfico, que só existe porque é proibido. Digo pelos efeitos sociais, psicológicos e orgânicos do álcool.
E assim, cada vez mais, se discrimina usuários de drogas ilícitas e se celebra o álcool como ferramenta de distração, sociabilização, etc.
Como disse uma vez meu amigo e companheiro de blog Fernando Arantes, "se propaganda é direcionada, propaganda de cerveja é pra asno".
E digo que, aquele que tem pavor de drogas e enche sua cara toda semana, é o mais asno de todos.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Triste País


                 
                 Triste país, que confunde consumo com cidadania
                 que mata índios queimados, ou afogados em represas
                 que jovens espancam uma mulher, e se 
                 justificam: "pensamos que era uma puta"
                 que tem um assassinato comprovadamente 
                 homofóbico por semana
                 que tem a taxa de assassinatos mais alta do mundo
                 que mata seus jovens no trânsito e nas favelas
                 que a justiça não é cega
                 que pede "direitos humanos para humanos direitos"
                 que sua juventude protesta contra o funk no ônibus
                 que não valoriza os professores
                 que não respeita as mulheres
                 que debates sociais são permeados pelo discurso religioso
                 que é racista
                 que elege Sarney, Collor, Aécio e ACM Neto
                 que não aproveita a oportunidade de sediar copa e olimpíada
                 que é controlado pela trinca Governo + 
                 Mídia + Grandes Empresas
                 que é extremamente desigual
                 que existe DEM e PMDB
                 que ainda existe gente passando fome
                 que não cuida da sua população de rua
                 que não existe tratamento para dependentes de drogas
                 que inventou o termo "orkutizar"
                 que tem se mostrado extremamente conservador
                 que investe em policiamento, como solução para a violência
                 que as pessoas comemoram Carandirú e Candelária
                 que tem quase 500 mil pessoas presas
                 que a maioria dos presos são negros e pobres
                 que sua classe média é MEDÍOCRE  e MAL-EDUCADA
                 e que se acha superior a qualquer um.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

aos 16

Publico, sem autorização, uma carta escrita em 19/3/03:
Olá Juju!
Tô te escrevendo do jeito que eu te prometi. É até melhor porque nem sempre dá tempo de conversar com você. Vou te escrever um texto bem legal (um pouco grandinho) mas você tem paciência pra ler, né? Aí vai:
Ainda pior que a convicção de um "NÃO" e a incerteza de um "TALVEZ" é a desilusão de um "QUASE".
É o quase que mata e me entristece, trazendo tudo o que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou...
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perderam por medo, nas idéias que nunca saíram do papel por causa dessa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna, ou melhor, não pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor: está estampada na distância e na frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "bom dia" quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor elouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco íris seria em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que a fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas, resta-nos paciência. Porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há o perdão, para os fracassos há novas chances, pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo e indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo o impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais tempo realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando, porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.
Eu só quero que você saiba que eu te entendo e respeito, pois cada um tem seu jeito de agir diante das situações. E não se sinta culpado por nada do que aconteceu ou virá a acontecer entre nós, afinal você nunca me enganou. Peço-lhe apenas para enxergar em mim uma companheira não só pras horas ruins, mas também pras boas.
E não deixe nunca de tentar, afinal nada é conseguido sem esforços.
Ana  Rute, 19/10/2003
Sei que poucos irão ler todo o texto. Reli esta carta outro dia, e me impressionou como aos 16 anos alguém, que não viveu comigo, podia me conhecer tão bem, ou ser tão parecida comigo. Nem namorávamos nesta época. Isso realmente foi muita sorte. Em tempo: detesto que me chamem de "juju", e agora que eu a relembrei disso, já sei que ela usará esta arma.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Fundamentalismo Ateísta

Há muito queria escrever sobre isso. Confesso que uma das coisas que me impedia era o medo de ser mal interpretado por alguns amigos meus que gostam de falar sobre religião, principalmente no facebook. Não é minha intenção aqui ofender nem criticar ninguém. Apenas falo sobre algo que tem me assustado bastante.
Trata-se da radicalização de um discurso ateísta. Com o pretexto de se defender a liberdade religiosa, ou a liberdade de expressão religiosa, algumas pessoas estão cometendo o mesmo erro que criticam, ou então desfilando uma série de preconceitos ou fáceis generalizações, ou ainda demonstrando uma total soberba ou sentimento de superioridade, como se estivessem acima de todos os mortais que acreditam em algo transcendental.
De fato, alguns tem colocado todos os evangélicos como idiotas que pagam pela salvação, todos os católicos como maníacos sexuais hipócritas ou ainda todos os crentes em qualquer coisa como uma massa acéfala. Não preciso dizer o quanto essa postura é idiota, e o quanto esse fundamentalismo ateísta tem sido prejudicial até mesmo para as causas defendidas pelos ateus.
O que mais me irrita, porém, é quando alguém posta um trecho da bíblia e coloca a sua interpretação sobre o mesmo texto, e diz que a bíblia é um livro que incentiva comportamentos reprováveis, como o sexismo e a guerra, por exemplo. Criticam aqueles que levam os livros sagrados ao pé da letra e, quando convém, tratam os textos de forma fundamental. Isso é bizarro.
Não acredito, também, que os ateus são mais felizes, mais bondosos, fazem mais sexo, entre outras coisas que já vi... de fato, tudo isso é questão pessoal, de caráter, e não de religião. Conheço católicos que assumem sua sexualidade, evangélicos muito inteligentes, padres e pastores brilhantes, assim como amo meus amigos ateus.
Não conheço muito da bíblia, mas o pouco que eu sei das lições de Jesus no novo testamento, me mostram que suas idéias são revolucionárias, e se todos colocassem em prática o amor pelo próximo seríamos realmente felizes. Infelizmente as mesmas palavras de amor e conforto servem para a manipulação de pessoas que, talvez em uma situação de carência total, se agarra ao primeiro discurso que toca-lhes o coração. Isso não acontece apenas na religião, já vimos exemplos na política, com Collor, por exemplo.
Enfim, peço aos meus amigos que procurem refletir sobre estas questões, que leiam a bíblia e tirem coisas boas dessa obra, que é o livro mais importante de todos os tempos. Nem tudo é ruim. Existem igrejas evangélicas que fazem grandes e honestos trabalhos em áreas importantes onde o estado não atua, como a recuperação de dependentes químicos, por exemplo. E, até o padre Marcelo, às vezes fala coisas boas.
Portanto, é necessário que se tire a bitola do ateísmo do rosto, e passe a, pelo menos, conhecer mais as coisas, antes de sair espalhando por aí seus preconceitos.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O Grito


Edvard Munch pintou minha alma hoje.
Em 1893.
Não posso resolver meus problemas.
Nem pensar nos problemas do mundo.
Por isso o prolongado silêncio do blog.
Quando encontrar a porta, voltarei a escrever.
Por enquanto basta dizer que viver não é preciso.
E meu espírito grita, e nem mesmo eu escuto.
Não sei mais quem eu sou, e o pior:
não sei o que quero ser.
Perdido.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

vivere non est necesse


Viver é arriscar-se. 
Nunca se sabe o que vai acontecer. O futuro, assim como o coração dos outros, é terra aonde ninguém vai, que ninguém conhece. 
Planejar ou imaginar o futuro, e trabalhar para que aconteça o que queremos é uma coisa saudável. Anestesiar-se para o mundo, deixar de sentir o que está acontecendo colocando-se esta escolha como racional não. Isso é ter medo de si próprio. 
Negar-se, não se entregar a si mesmo. Isso é o verdadeiro anti-amor.
Não entendo como várias pessoas que eu amo não conseguem viver porque pensam demais. Como diz uma obra de arte do banheiro da FAFICH (na psicologia): "entre você e a cômoda do seu quarto há tanto conceito que você nem a sente".
Ter medo da tristeza, das dificuldades, das frustrações ou das decepções nos fazem perder grandes momentos felizes
Se há pouco tempo atrás eu pudesse colocar toda minha vida em um verso seria ter razão é tão perigoso que algumas pessoas preferem não ter nenhuma (Carlos Drummond de Andrade).
Se fosse uma poesia, seria Fernando Pessoa, em seu genial viver não é preciso.
É isso, amigos. Este faz parte de um raro momento confessional neste blog. 
Para terminá-lo, só mais algumas coisas que gostaria de falar:
Não sentir é estar morto.
Não amar é pecado.
Libertemo-nos de nós mesmos e só assim viveremos de verdade.
Tão livres que conseguiremos estar preso por vontade.
Ter medo de si mesmo é ser um barco no asfalto.
E viver é arriscar-se.

sábado, 18 de junho de 2011

Geração Vovó Mafalda

Vovó Mafalda foi um ícone que animou as manhãs de toda criança nascida na década de 1980. Me lembro muito bem do dia em que eu, com uns três ou quatro anos, assistia a sessão desenho e minha mãe disse a frase que cortaria meu pequeno coração ao meio: "meu filho, a vovó Mafalda é um homem vestido de mulher." Sem dúvidas, esta foi uma das maiores decepções que tive durante a minha infância.
Depois desse dia, nunca mais vi a velha com os mesmos olhos... ela era doce, mas não era mulher, era velha, mas não podia ser avó. Era na verdade um ser híbrido, que saía do meu pequeno sistema de classificação.
Pensando nisso, vejo que esta geração à qual tenho o desprazer de fazer parte, que passou a infância assistindo vovó Mafalda, também tem em si própria algumas características do que a velha se tornou para mim enfant. Somos híbridos, misturamos características que nos fazem os mais perversos seres que já pisaram em solo brasileiro:
Fomos à escola, mas não somos educados.
Temos muita informação, mas não somos bem informados.
Podemos votar, mas não somos democráticos.
Podemos protestar, mas só o fazemos ao contrário. (leia sofativismo ou revolta de papel)
Somos mais esclarecidos, mas vivemos uma atmosfera de intolerância.
Queremos igualdade. Queremos ser iguais os padrões que nos impõe.
Liberdade nada mais é do que poder fazer o que quiser, inconsequentemente.
Tudo que não gostamos é razão para ter ódio.
Tudo em que não acreditamos, chamamos de picaretagem.
Temos consciência, e poluímos como nunca.
Vivemos no século XXI e ainda maltratamos as mulheres.
Negros, velhos, deficientes, pobres ainda são considerados doença.
Consumir é o nosso objetivo de vida.
Criamos, alimentamos, treinamos, testamos e matamos marginais todo o tempo.
Não nos dói mais um corpo no chão...
Choramos com as grandes tragédias, nos esquecendo da grande catástrofe diária brasileira.
Enxergamos tudo perfeitamente, menos aquele menino que passa frio em frente a nossa casa.
Colocamos os caras em Brasília, para depois culpá-los de toda a nossa miséria...
Se pensar mais um pouco, conseguiria escrever muito mais. Mas estou cansado... não falo neste poste de uma "classe média", mas de toda esta minha geração. Tenho a mais profunda vergonha de ter nascido em 11/02/1987.