quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O melhor argumento para se votar em José Serra



Hoje, na sexta série, o meu aluno Douglas (incrivelmente inteligente) me deu o melhor argumento que alguém pode ter para se votar em José Serra:
"_Vou torcer pro Serra ganhar.
Ele vai acabar com o bolsa família
e eu não vou mais precisar vir pra escola".
Quase que ele me convence.

sábado, 16 de outubro de 2010

Eu tenho medo

Este é o post que eu menos queria escrever. Queria falar sobre outras coisas, mas não pude evitar...
Ontem foi dia do professor. Nenhum abraço ou aperto de mão especial por esse dia. Ao contrário, no dia dos professores foi divulgada uma pesquisa que comprova: "magistério tem dificuldades para atrair jovens talentos para a carreira." Você poder ler na íntegra aqui ou aqui. Resumindo, me senti abaixo da linha do lixo. Isto porque não sou talentoso pra ser outra coisa, tipo médico ou engenheiro, e por falta de opção e de inteligência sobrou pra mim dar aula. Prefiro acreditar que sou burro por escolha, e não de nascença...
Como disse, não queria escrever sobre isso, nem sobre as eleições. Não votei na Dilma do primeiro turno (Plínio est roi). Não queria me posicionar aqui sobre o segundo turno, queria apenas chegar no dia 31, apertar 13 e pronto. Porém, com o clima eleitoral do jeito que tá, não deu pra evitar[2].
Quem não se lembra daquele videozinho ridículo da Regina Duarte falando que tinha medo se o Lula ganhasse a eleição em 2002 acabasse com a democracia e talz. Se você não se lembra, pode conferir aqui. Muito mais engraçado que zorra total.
Parodiando o vídeo, quero dizer que também tenho medo. Tenho medo de ver de novo o ARENA/UDN/PFL/DEM no poder de novo. Só gente boa, estilo Ronaldo Caiado, Eliseu Resende e a família Magalhães, na Bahia. Sim, um partido de idéias novas se constrói com pessoas jovens.
Tenho medo de ver o choque de gestão em nível federal. A péssima tecnocracia do governo de Minas  aplicada nacionalmente.
Tenho medo da volta do desemprego, principalmente nas camadas mais pobres da população. Se você acha que pobre não tem emprego porque não procura, e que o melhor é deixá-los morrer de fome, vote 45.
Tenho medo da privatização da petrobrás, do pré-sal e, principalmente das escolas federais, tanto de ensino médio (cefet) quanto superior (ufmg). O que o ministro Haddad fez pela educação em sua administração, tanto em Minas quanto no Brasil é digno de prêmios internacionais. O mais bizarro é ver gente da minha sala, na graduação da Antropologia (curso criado pelo Reuni - Haddad/Lula) dizer que vai votar no Serra. 
Tenho medo da volta da lógica sucateia-vende dos governos liberais. Não se investe nas instituições, depois diz que só dão prejuízo e resolvem vendê-las a preço de banana. Foi assim com a Vale, por exemplo. Certamente, o próximo alvo das privatizações serão as instituições federais de ensino, que serão vendidas com a desculpa de se investir o dinheiro na educação básica. E o pobre voltará a não ter acesso aos cursos superiores, seguindo exemplos de países ultra desenvolvidos como o Chile.
Tenho medo de o Estado ser administrado como empresa. O Estado não deve ser mínimo, como pregam os liberais, e sim investir em distribuição de renda e em proporcionar a todos condições para exercer sua cidadania de maneira plena.
Não era essa a escolha que eu queria fazer. Mas, comparando-se os oito anos de governo FHC com os oito do governo Lula, fica fácil decidir qual projeto é melhor para a maioria da população brasileira. Se você é um paulista, metido a besta e riquinho, está no seu direito de votar em Serra. Mas, se você é mineiro, não é dono de mineradora ou de um banco, e vota Serra, tenho medo de você também.
Em tempo, parabéns a todos os professores. Somos marginais, somos heróis!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Made in Tehran, ou Teerã é aqui!

Um dos melhores discos lançados em todos os tempos de música brasileira é Selvagem?, de 1986, dos Paralamas do Sucesso. Entre as canções deste álbum estão grandes sucessos, como Alagados (que é sensacional) e Você.
Existe, porém, uma música quase desconhecida neste álbum, que se chama Teerã. Segundo o próprio Herbert Vianna, essa música traça um paralelo entre as crianças vítimas da guerra no Irã (que na época estava no seu auge de violência) e as crianças vítimas da desigualdade social no Brasil. Aqui quase nada mudou.
A música começa com os versos:
"Por quanto tempo ainda vamos ver
fotografias pela manhã
imagens de dor
lições do passado
recentes demais pra se esquecer "
Coincidentemente, estive essa semana em uma excursão com meus alunos da 8a série, na redação do jornal "o Tempo", o mesmo que faz o primeiro tablóide sensacionalista de Belo Horizonte e jornal mais vendido do Brasil, o famigerado "Super Notícia". De fato o Super revolucionou o mercado jornaleiro de Minas, e muita gente que antes não lia nenhuma linha, hoje já lê o noticiário policial e a página de esportes desse jornal, o que é um grande avanço.
Quem acompanhou a excursão foi uma mocinha muito simpática, funcionária do marketing da empresa. Quando ela estava acabando de falar aquelas generalidades à respeito do jornal, não resisti e a perguntei se era possível, se eu quisesse difamar alguém, comprar uma reportagem no jornal. Pensei que ela negaria  (na cara de pau) que isso acontecesse. Não negou. E disse ainda mais, que "se tem um escândalo contra um grande anunciante, pode ser que essa matéria não saia no jornal, ou se for inevitável, vamos 'pegar leve'".
Coincidentemente, de novo, hoje, na propaganda de José Serra na televisão, ele disse "no meu governo, não vamos ser amigos de governos que apedrejam mulheres e controlam a imprensa". Sim, a imprensa pode ser controlada por anunciantes, grupos políticos ou quem tenha grana pra poder comprar uma reportagem, mas não deve sofrer nenhum controle por parte do Estado. Não que eu ache que a imprensa deva ser imparcial (nunca serão), mas é preciso deixar de lado essa tentativa de iludir a população. Isto é liberdade de imprensa, ou de expressão? Nem aqui, nem em Teerã.
Uma outra coisa me chamou a atenção: a exposição das pessoas nas capas de jornal. Tanto na imagem acima, quanto na que está aqui do lado, banaliza-se de forma irresponsável casos da vida íntima das pessoas. Uma aluna me contou a seguinte história: "quando mataram meu primo, com 16 tiros, ele saiu na capa do super. Minha avó comprou o jornal no outro dia e foi chorando pra casa". Esquecem-se que, antes de tragédias ou escândalos, existem seres humanos. Não se respeita a memória daquele que morreu, e esquecem que estes anônimos são pais, filhos, irmãos, amigos...
Sim, amigos, vamos pegar leve com os grandes anunciantes e empresários. O povo, que não tem dono, que se foda com suas misérias. Mas, voltemos a Teerã.
Mais adiante, Herbert Vianna pergunta:
"E o futuro o que trará
para as crianças em Teerã?
brincar de soldados, 
por entre os escombros.
Os corpos deitados
não fingem mais".
Versos Sensacionais, de uma sutileza digna de Caetano Veloso. Qual de nós nunca brincou de soldados, ou ainda de vivo-morto?
Na segunda parte da música, trata-se da realidade das crianças brasileiras:

"Por quanto tempo ainda vamos ter
nas noites frias e nas manhãs
imagens de dor
                                                                                  em rostos marcados
pequenos demais pra se defender.

E o futuro o que trará?
Se estas crianças vão sempre estar
pedindo trocados, os vidros fechados
sentados no asfalto sem perceber"...
A infância em um país em guerra é desolada. Em um país como o Brasil, onde impera a desigualdade congênita, a situação não me parece muito diferente. Nossas crianças estão perdidas tais como as de Teerã, ou as de Cabul, ou as do Haiti.
Não temos liberdade de imprensa, e a próxima geração de adultos está gravemente prejudicada, pela falta de educação de qualidade e por todas as mazelas fruto da desigualdade social brasileira. "Será que ainda existe razão pra viver em Teerã?"

sábado, 2 de outubro de 2010

A lei "ficha limpa" e a educação no Brasil

Já tinha adiantado em outro post que o sistema eleitoral brasileiro é bizarro. Democracia sem educação é entregar o país aos interesses dos bancários, industriais, latifundiários e grandes capitalistas em geral (rouge mode on). Teremos no congresso, Tiririca e Aécio Neves. Isso não é bom, na minha opinião.
Não é sobre isso que eu quero falar. Esta semana foi discutido se a tal lei ficha limpa deveria valer para estas eleições ou só para as próximas. Por mim, não se aprovava nenhuma lei desta natureza antes de se investir pesadamente em educação.
Não há problema em pessoas condenados pelos mais diversos crimes se candidatarem. O problema é se estas pessoas conseguirem ser eleitos.
A lei ficha limpa considera que o povo é suficientemente burro para eleger candidatos de má índole. E realmente o é. Porém, não é culpa do povo, mas sim de uma falta total de investimentos em educação de qualidade, para a formação da cidadania crítica, necessária para o perfeito exercício da democracia. Duvido que se o povo fosse minimamente instruído, o sr. Aécio Neves seria eleito senador.
Proibir-se que certas pessoas se candidatem por ser condenados, é tapar o sol com a peneira. É muito mais fácil elaborar uma lei desta natureza do que revolucionar a educação. É como se dissessem "cansamos de vocês (povo) votarem em ladrões. Porém, ao invés de darmos condições para vocês pensarem melhor seu papel de cidadão, vamos simplesmente proibir estas pessoas de se condidatarem".
Só teremos democracia se conseguirmos liberdade. Liberdade só teremos com educação. Tapar o sol com a peneira não é o melhor caminho.