sábado, 18 de junho de 2011

Geração Vovó Mafalda

Vovó Mafalda foi um ícone que animou as manhãs de toda criança nascida na década de 1980. Me lembro muito bem do dia em que eu, com uns três ou quatro anos, assistia a sessão desenho e minha mãe disse a frase que cortaria meu pequeno coração ao meio: "meu filho, a vovó Mafalda é um homem vestido de mulher." Sem dúvidas, esta foi uma das maiores decepções que tive durante a minha infância.
Depois desse dia, nunca mais vi a velha com os mesmos olhos... ela era doce, mas não era mulher, era velha, mas não podia ser avó. Era na verdade um ser híbrido, que saía do meu pequeno sistema de classificação.
Pensando nisso, vejo que esta geração à qual tenho o desprazer de fazer parte, que passou a infância assistindo vovó Mafalda, também tem em si própria algumas características do que a velha se tornou para mim enfant. Somos híbridos, misturamos características que nos fazem os mais perversos seres que já pisaram em solo brasileiro:
Fomos à escola, mas não somos educados.
Temos muita informação, mas não somos bem informados.
Podemos votar, mas não somos democráticos.
Podemos protestar, mas só o fazemos ao contrário. (leia sofativismo ou revolta de papel)
Somos mais esclarecidos, mas vivemos uma atmosfera de intolerância.
Queremos igualdade. Queremos ser iguais os padrões que nos impõe.
Liberdade nada mais é do que poder fazer o que quiser, inconsequentemente.
Tudo que não gostamos é razão para ter ódio.
Tudo em que não acreditamos, chamamos de picaretagem.
Temos consciência, e poluímos como nunca.
Vivemos no século XXI e ainda maltratamos as mulheres.
Negros, velhos, deficientes, pobres ainda são considerados doença.
Consumir é o nosso objetivo de vida.
Criamos, alimentamos, treinamos, testamos e matamos marginais todo o tempo.
Não nos dói mais um corpo no chão...
Choramos com as grandes tragédias, nos esquecendo da grande catástrofe diária brasileira.
Enxergamos tudo perfeitamente, menos aquele menino que passa frio em frente a nossa casa.
Colocamos os caras em Brasília, para depois culpá-los de toda a nossa miséria...
Se pensar mais um pouco, conseguiria escrever muito mais. Mas estou cansado... não falo neste poste de uma "classe média", mas de toda esta minha geração. Tenho a mais profunda vergonha de ter nascido em 11/02/1987.

domingo, 5 de junho de 2011

Sofativismo ou Revolta de Papel

Era um dia de aula normal da FAFICH. Tenho o costume de sempre me deter em frente aos cartazes que ficam nas escadas. Normalmente tem algo interessante, um show, um cartaz de alguém que perdeu alguma coisa, enfim... desta feita, porém, algo me chamou a atenção: um cartaz com os dizeres "todo apoio à guerra popular na Índia, contra o Estado fascista indiano" entre outras coisas. Fico imaginando se uma pessoa, num nível elementar de pensamento crítico, pensa mesmo em apoiar uma guerra popular. Isto porque, inúmeros exemplos na história mostram que milhares de vidas são perdidas em conflitos assim, e que se a parte mais fraca ainda consegue a vitória, seu comandante se mostra, geralmente, ainda mais assassino que seu antecessor. A sede por poder e a sensação de onipotência tomam conta dos ditos revolucionários, que se voltam contra o povo que os apoiaram.
Fico imaginando também se a pessoa que apóia esta guerra popular, ou qualquer outra guerra, seria capaz de sair do conforto da sua caminha na zona sul para ir pegar em armas em qualquer desses lugares. Não, acho que não. Indianos, somalis, pessoas de Uganda. Peguem nas armas para mim. Matem-se. Assistirei todos os dias o Jornal Nacional. E apoiarei vocês em pensamento.
Esta profunda inversão da ordem lógica das coisas atinge boa parte da população jovem do país, e a internet é um dos locais mais privilegiados para a observarmos. Por exemplo: campanhas como "doe um fone de ouvido para um funkeiro" ou "contra o preço da gasolina" fazem muito sucesso na rede. Ninguém vai pra rua protestar contra a precariedade da educação no Brasil, que leva à falta de cidadania, que pode levar ao não respeito aos direitos alheios e aí sim à dita falta de noção dos funkeiros em incomodar a pobre classe média com seu gosto musical duvidoso.
O metrô de Belo Horizonte liga o nada a lugar nenhum sem passar pelo centro. De moto, gasto 20 minutos de casa até à FAFICH. De ônibus, pelo menos 1h40min. A passagem é caríssima, e a qualidade é péssima. Mas, a classe média quer andar sozinha no seu carro. E a gasolina está absurdamente cara. E agora? Não vamos nos manifestar pela melhora do transporte coletivo, até porque ele é coletivo, e assim engrossar o coro da maioria da população. O preço da gasolina é o maior problema. E por isso, faremos uma campanha no facebook.
Uma pessoa com a inteligência menos favorecida que ler este post certamente me chamará de reacionário, ou dizer que eu sou contra as manifestações democraticamente legítimas de uma parcela da população. E que pelo menos campanhas virtuais são algum movimento, enquanto eu, edinho, apenas aceito o que me é imposto sem fazer nada, e ainda criticando aqueles que tentam.
Responderia a esta pessoa que eu, edinho, poderia estar fazendo outras coisas da minha vida, ter escolhido outra profissão. O que me faz continuar sendo professor, e assim estar na linha de frente na verdadeira guerra pela qual o Brasil passa, é a sensação de sair de casa cedo por uma causa. Não estou na frente do meu computador esperando as coisas melhorarem.
Talvez andar sozinho no carro seja mais importante que salvar as próximas gerações brasileiras da mediocridade pela qual a minha geração passa. Mas essa é minha guerra. E a batalha é diária, e começa com cada sinal, às 7:00.