segunda-feira, 31 de outubro de 2011

aos 16

Publico, sem autorização, uma carta escrita em 19/3/03:
Olá Juju!
Tô te escrevendo do jeito que eu te prometi. É até melhor porque nem sempre dá tempo de conversar com você. Vou te escrever um texto bem legal (um pouco grandinho) mas você tem paciência pra ler, né? Aí vai:
Ainda pior que a convicção de um "NÃO" e a incerteza de um "TALVEZ" é a desilusão de um "QUASE".
É o quase que mata e me entristece, trazendo tudo o que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou...
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perderam por medo, nas idéias que nunca saíram do papel por causa dessa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna, ou melhor, não pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor: está estampada na distância e na frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "bom dia" quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor elouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco íris seria em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que a fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas, resta-nos paciência. Porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há o perdão, para os fracassos há novas chances, pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo e indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo o impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais tempo realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando, porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.
Eu só quero que você saiba que eu te entendo e respeito, pois cada um tem seu jeito de agir diante das situações. E não se sinta culpado por nada do que aconteceu ou virá a acontecer entre nós, afinal você nunca me enganou. Peço-lhe apenas para enxergar em mim uma companheira não só pras horas ruins, mas também pras boas.
E não deixe nunca de tentar, afinal nada é conseguido sem esforços.
Ana  Rute, 19/10/2003
Sei que poucos irão ler todo o texto. Reli esta carta outro dia, e me impressionou como aos 16 anos alguém, que não viveu comigo, podia me conhecer tão bem, ou ser tão parecida comigo. Nem namorávamos nesta época. Isso realmente foi muita sorte. Em tempo: detesto que me chamem de "juju", e agora que eu a relembrei disso, já sei que ela usará esta arma.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Fundamentalismo Ateísta

Há muito queria escrever sobre isso. Confesso que uma das coisas que me impedia era o medo de ser mal interpretado por alguns amigos meus que gostam de falar sobre religião, principalmente no facebook. Não é minha intenção aqui ofender nem criticar ninguém. Apenas falo sobre algo que tem me assustado bastante.
Trata-se da radicalização de um discurso ateísta. Com o pretexto de se defender a liberdade religiosa, ou a liberdade de expressão religiosa, algumas pessoas estão cometendo o mesmo erro que criticam, ou então desfilando uma série de preconceitos ou fáceis generalizações, ou ainda demonstrando uma total soberba ou sentimento de superioridade, como se estivessem acima de todos os mortais que acreditam em algo transcendental.
De fato, alguns tem colocado todos os evangélicos como idiotas que pagam pela salvação, todos os católicos como maníacos sexuais hipócritas ou ainda todos os crentes em qualquer coisa como uma massa acéfala. Não preciso dizer o quanto essa postura é idiota, e o quanto esse fundamentalismo ateísta tem sido prejudicial até mesmo para as causas defendidas pelos ateus.
O que mais me irrita, porém, é quando alguém posta um trecho da bíblia e coloca a sua interpretação sobre o mesmo texto, e diz que a bíblia é um livro que incentiva comportamentos reprováveis, como o sexismo e a guerra, por exemplo. Criticam aqueles que levam os livros sagrados ao pé da letra e, quando convém, tratam os textos de forma fundamental. Isso é bizarro.
Não acredito, também, que os ateus são mais felizes, mais bondosos, fazem mais sexo, entre outras coisas que já vi... de fato, tudo isso é questão pessoal, de caráter, e não de religião. Conheço católicos que assumem sua sexualidade, evangélicos muito inteligentes, padres e pastores brilhantes, assim como amo meus amigos ateus.
Não conheço muito da bíblia, mas o pouco que eu sei das lições de Jesus no novo testamento, me mostram que suas idéias são revolucionárias, e se todos colocassem em prática o amor pelo próximo seríamos realmente felizes. Infelizmente as mesmas palavras de amor e conforto servem para a manipulação de pessoas que, talvez em uma situação de carência total, se agarra ao primeiro discurso que toca-lhes o coração. Isso não acontece apenas na religião, já vimos exemplos na política, com Collor, por exemplo.
Enfim, peço aos meus amigos que procurem refletir sobre estas questões, que leiam a bíblia e tirem coisas boas dessa obra, que é o livro mais importante de todos os tempos. Nem tudo é ruim. Existem igrejas evangélicas que fazem grandes e honestos trabalhos em áreas importantes onde o estado não atua, como a recuperação de dependentes químicos, por exemplo. E, até o padre Marcelo, às vezes fala coisas boas.
Portanto, é necessário que se tire a bitola do ateísmo do rosto, e passe a, pelo menos, conhecer mais as coisas, antes de sair espalhando por aí seus preconceitos.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O Grito


Edvard Munch pintou minha alma hoje.
Em 1893.
Não posso resolver meus problemas.
Nem pensar nos problemas do mundo.
Por isso o prolongado silêncio do blog.
Quando encontrar a porta, voltarei a escrever.
Por enquanto basta dizer que viver não é preciso.
E meu espírito grita, e nem mesmo eu escuto.
Não sei mais quem eu sou, e o pior:
não sei o que quero ser.
Perdido.